O que é Attack Surface Management (ASM)? O Guia Definitivo para Enxergar sua Empresa como um Invasor
No cenário digital de hoje, sua empresa é como um castelo. Mas, diferentemente de um castelo medieval com um único portão e um fosso, a empresa moderna tem milhares de pontos de entrada. Cada novo serviço em nuvem, cada notebook de funcionário em home office, cada API conectada a um parceiro e até mesmo aquele servidor de testes esquecido no canto de uma sub-rede é uma porta ou janela em potencial.
O problema? Você não pode proteger o que você não sabe que existe.
É aqui que entra um dos conceitos mais críticos da cibersegurança moderna: Attack Surface Management (ASM), ou Gerenciamento da Superfície de Ataque.
A definição formal é clara: O Attack Surface Management (ASM) é o processo contínuo de descobrir, analisar, monitorar e remediar os vetores de ataque de uma organização.
Mas o que isso significa na prática? Significa adotar a visão de um invasor para encontrar e fechar suas próprias brechas antes que eles o façam.
Desvendando os Conceitos: Superfície de Ataque vs. ASM
Antes de gerenciar, precisamos entender o que é a "superfície de ataque".
Superfície de Ataque (Attack Surface): É a soma de todos os pontos de entrada potenciais onde um invasor pode tentar extrair dados ou obter acesso não autorizado a um sistema.
Isso inclui diversos tipos de ativos que muitas vezes passam despercebidos pelas equipes de segurança. Os ativos conhecidos são aqueles que estão no radar da TI: seus websites corporativos, servidores de e-mail, VPNs e aplicações voltadas ao público. Estes são relativamente fáceis de monitorar porque fazem parte do inventário oficial da organização.
No entanto, o verdadeiro perigo muitas vezes reside nos ativos desconhecidos, também chamados de Shadow IT. Imagine aquele servidor que a equipe de marketing subiu na AWS para um projeto temporário e esqueceu de desligar após a campanha terminar. Ou o subdomínio de um teste antigo que ainda está no ar, rodando uma versão desatualizada de software com vulnerabilidades conhecidas. Estes ativos "fantasmas" são alvos preferidos dos atacantes porque frequentemente não recebem patches de segurança ou monitoramento adequado.
Além disso, existem os ativos de terceiros que sua organização utiliza mas não controla diretamente. Código de parceiros, APIs externas, bibliotecas de software de código aberto como o Log4j que sua aplicação utiliza - todos estes representam vetores de ataque potenciais. Quando uma vulnerabilidade crítica é descoberta em uma dessas dependências, você precisa saber imediatamente onde ela está sendo usada em sua infraestrutura.
Por fim, temos as exposições de dados que podem não ser ativos técnicos tradicionais, mas representam riscos significativos. Credenciais vazadas em sites de paste, buckets de armazenamento em nuvem mal configurados que qualquer um pode acessar, bancos de dados abertos para a internet sem autenticação - todos estes são pontos de entrada que os invasores procuram ativamente.
O Gerenciamento (ASM) é o processo ativo de mapear, analisar e reduzir essa superfície. Ele funciona em um ciclo contínuo de quatro etapas essenciais que transformam a segurança de reativa em proativa.
A primeira etapa é Descobrir. Aqui, ferramentas automatizadas escaneiam continuamente a internet da mesma forma que um invasor faria para encontrar todos os ativos conectados à sua organização, sejam eles conhecidos ou não. Este não é um processo pontual, mas uma varredura contínua que identifica novos ativos assim que aparecem online. A plataforma de ASM age como um hacker ético, procurando por domínios, subdomínios, endereços IP, certificados SSL e qualquer outro rastro digital que leve de volta à sua organização.
A segunda etapa é Analisar e Priorizar. Não basta simplesmente encontrar ativos; é preciso entender o risco que cada um representa. Um servidor web executando uma aplicação crítica de negócios com uma vulnerabilidade crítica conhecida (CVE) é infinitamente mais perigoso que um blog estático desatualizado. O ASM classifica os ativos descobertos, identifica vulnerabilidades através de scanners automatizados e bancos de dados de CVE, e então prioriza o que precisa ser corrigido primeiro baseando-se em múltiplos fatores: criticidade da vulnerabilidade, exposição do ativo, valor dos dados que ele processa e se há exploits ativos circulando.
A terceira etapa é Monitorar. A superfície de ataque não é estática; ela muda diariamente, às vezes a cada hora. Novas portas são abertas para testes e esquecidas abertas. Patches são aplicados em alguns servidores mas não em outros. Novos subdomínios são criados para projetos temporários. Certificados SSL expiram. O ASM monitora essas mudanças em tempo real, alertando imediatamente quando algo muda de forma que possa introduzir risco. É como ter um vigia 24/7 observando cada alteração em sua presença digital.
A quarta e última etapa é Remediar. Este é o objetivo final de todo o processo. O ASM não é apenas sobre gerar relatórios bonitos; é sobre ação. As melhores plataformas de ASM se integram diretamente aos sistemas de tickets (como Jira ou ServiceNow) e ferramentas de gerenciamento de vulnerabilidades para garantir que as falhas de maior risco sejam não apenas identificadas, mas efetivamente corrigidas. A remediação é rastreada, medida e reportada, criando um ciclo de melhoria contínua.
Por que o ASM é Tão Crítico Agora?
A transformação digital, a adoção massiva da nuvem e a mudança abrupta para o trabalho remoto explodiram a superfície de ataque das organizações modernas. Antigamente, a segurança se concentrava no perímetro - o famoso "fosso" do castelo. Você tinha um firewall robusto na borda da rede, sistemas de detecção de intrusão monitorando o tráfego que entrava e saía, e tudo dentro do perímetro era considerado relativamente seguro. Hoje, esse modelo está completamente obsoleto. O perímetro simplesmente não existe mais.
Funcionários acessam sistemas corporativos de casa, de cafeterias, de aeroportos. Aplicações críticas de negócio rodam em múltiplas nuvens públicas (AWS, Azure, Google Cloud) que você não controla fisicamente. Parceiros de negócios têm acesso direto a APIs e sistemas internos. Dispositivos IoT se conectam à rede sem passar por qualquer processo formal de aprovação de TI. Cada um destes pontos é uma extensão da sua superfície de ataque.
O Gartner tem sido enfático sobre a importância do ASM nos últimos anos. Em suas previsões de tendências de segurança, o instituto de pesquisa destaca que o Gerenciamento da Superfície de Ataque Externa (EASM) é uma das principais prioridades estratégicas para CISOs. O Gartner prevê que, até 2026, as organizações que priorizarem seus investimentos em segurança com base em um programa de ASM contínuo sofrerão dois terços menos violações do que as que não o fazem. Esta não é uma melhoria marginal; é uma diferença transformadora.
Sem o ASM, as equipes de segurança estão essencialmente trabalhando no escuro. Elas tentam consertar as falhas que conhecem, aplicando patches em sistemas inventariados, realizando testes de penetração em aplicações documentadas. Enquanto isso, os invasores estão explorando as falhas que descobriram através de reconhecimento automatizado - aquele servidor esquecido, aquela API mal configurada, aquele subdomínio vulnerável que ninguém sabia que existia. É uma batalha desigual onde o atacante tem visibilidade completa e o defensor está parcialmente cego.
Estratégias de Segurança Desbloqueadas pelo ASM
Adotar uma plataforma de ASM não é apenas comprar uma ferramenta e instalá-la; é habilitar uma estratégia de segurança fundamentalmente diferente e mais eficaz.
Antecipação Real de Ameaças
O ASM muda completamente o jogo de reativo para proativo. No modelo tradicional, a sequência é dolorosamente familiar: você é atacado, detecta o incidente (se tiver sorte, rapidamente), responde ao ataque, contém o dano e então finalmente corrige a vulnerabilidade que foi explorada. É um ciclo de "Fomos atacados, agora precisamos corrigir". Com ASM, a narrativa muda radicalmente para "Encontramos uma falha exposta que sabemos que está sendo ativamente escaneada por grupos de ransomware, vamos corrigir antes que qualquer ataque aconteça".
Você passa a ver sua infraestrutura com os olhos do adversário. Uma plataforma ASM robusta replica a perspectiva de um atacante, escaneando continuamente sua presença digital externa da mesma forma que um invasor faria - identificando portas abertas, serviços expostos, certificados SSL, subdomínios e tecnologias em uso. A diferença crítica é que você descobre e corrige as vulnerabilidades antes que os atacantes as explorem. É segurança proativa, não reativa.
Redução Drástica do MTTR (Mean Time to Remediation)
O MTTR, ou Tempo Médio para Remediação, é uma métrica vital que mede quanto tempo leva desde a identificação de uma vulnerabilidade até sua correção efetiva. O problema de muitas equipes de segurança não é a falta de vontade ou capacidade de corrigir vulnerabilidades; é a falta de priorização eficaz diante de um volume esmagador de alertas.
Um scanner de vulnerabilidades tradicional executado na rede interna pode facilmente gerar 50.000 alertas. Qual você corrige primeiro? Muitas equipes acabam priorizando por CVSS score (Common Vulnerability Scoring System), mas isso é fundamentalmente falho porque o CVSS não leva em conta o contexto específico da sua organização. Uma vulnerabilidade com CVSS 9.8 em um servidor de desenvolvimento interno sem acesso à internet é muito menos urgente que uma vulnerabilidade CVSS 7.5 em um servidor web público que processa transações financeiras.
Uma plataforma de ASM resolve este problema de priorização de forma elegante. Ela dirá: "Dessas 50.000 vulnerabilidades identificadas, estas 15 específicas estão em servidores voltados para a internet, possuem exploits públicos conhecidos disponíveis no Metasploit, estão sendo ativamente escaneadas por grupos de ransomware conhecidos (baseado em inteligência de ameaças), e afetam sistemas que processam dados críticos de clientes. Corrija-as agora, nesta ordem". O resultado é uma redução dramática no MTTR para as vulnerabilidades que realmente importam.
Habilitação da Ciber Higiene Essencial (CIS Controls)
O ASM é a base fundamental da "higiene cibernética" - as práticas básicas de segurança que toda organização deve ter. Os CIS Controls v8 (e a versão mais recente v8.1) são um conjunto amplamente reconhecido de melhores práticas de defesa cibernética, desenvolvido por especialistas de segurança de todo o mundo. Estes controles são organizados em três Implementation Groups (IG1, IG2, IG3) baseados no tamanho e sofisticação da organização.
O Implementation Group 1 (IG1) é definido como a "higiene cibernética essencial" - o padrão mínimo absoluto de segurança que todas as empresas, independentemente do tamanho ou setor, devem implementar. É o equivalente cibernético de lavar as mãos e usar cinto de segurança.
Os dois primeiros controles do CIS, que formam a base de todo o framework, são:
CIS Control 1: Inventário e Controle de Ativos Empresariais. Você precisa saber quais dispositivos e sistemas existem em sua rede.
CIS Control 2: Inventário e Controle de Ativos de Software. Você precisa saber quais aplicações e softwares estão rodando nesses sistemas.
O ASM automatiza e valida precisamente esses dois controles fundamentais para ativos externos voltados para a internet. É simplesmente impossível ter uma higiene cibernética básica (IG1) se você não sabe quais ativos e softwares estão expostos na internet. O ASM não apenas descobre esses ativos, mas mantém um inventário vivo e atualizado automaticamente, algo que é praticamente impossível de fazer manualmente em uma organização moderna.
O Custo da Falta de Visibilidade Contínua: Lições de 7 Incidentes Reais
A ausência de uma plataforma de monitoramento contínuo da superfície de ataque pode ter consequências significativas. Os casos a seguir ilustram situações onde a falta de visibilidade completa dos ativos externos resultou em incidentes de alto impacto. Todos envolviam vulnerabilidades em aplicações voltadas para a internet - exatamente o tipo de exposição que uma plataforma ASM completa é projetada para identificar proativamente.
Incidentes Internacionais
Equifax (2017)
A violação de dados da Equifax ilustra os desafios de manter visibilidade completa de ativos em grandes organizações.
O Desafio: Uma vulnerabilidade crítica (CVE-2017-5638) existia na estrutura de aplicação web Apache Struts, utilizada em um portal público. Embora o patch de correção estivesse disponível, a complexidade de rastrear todos os ativos e suas dependências dificultou a identificação e remediação em tempo hábil.
O Prejuízo: O vazamento expôs dados pessoais sensíveis de mais de 147 milhões de pessoas, incluindo números de segurança social, datas de nascimento, endereços e, em alguns casos, números de carteira de motorista. O custo total para a Equifax, incluindo multas regulatórias, acordos judiciais, custos de remediação e perda de valor de mercado, ultrapassou $1.4 bilhão. O CEO renunciou, e a reputação da empresa foi permanentemente manchada.
Como o ASM Ajudaria? Uma plataforma de ASM teria executado três funções críticas: (1) Descoberto o portal público e identificado que ele fazia parte da infraestrutura da Equifax, mesmo que fosse um ativo "esquecido" ou mal documentado. (2) Identificado que o portal usava Apache Struts e qual versão específica estava rodando. (3) No momento em que a CVE-2017-5638 foi divulgada publicamente, a plataforma teria cruzado essa informação com o inventário de ativos e priorizado a aplicação do patch como "crítica" imediatamente, muito antes que os atacantes explorassem a vulnerabilidade meses depois.
Capital One (2019)
O caso da Capital One destaca a complexidade de gerenciar configurações de segurança em ambientes de nuvem dinâmicos.
O Desafio: Uma configuração inadequada em um Web Application Firewall (WAF) nos servidores de nuvem AWS criou uma vulnerabilidade. A configuração permitia que comandos especialmente formatados fossem executados pelo servidor, possibilitando acesso não autorizado a buckets S3 contendo dados de clientes.
O Prejuízo: O invasor conseguiu acessar e extrair dados de mais de 100 milhões de clientes e candidatos a cartão de crédito. A Capital One foi multada em $190 milhões por reguladores federais, além de enfrentar custos massivos de recuperação, notificação de clientes e monitoramento de crédito.
Como o ASM Ajudaria? Plataformas modernas de ASM não apenas descobrem ativos em nuvem, mas também monitoram continuamente suas configurações em busca de más configurações conhecidas e desvios de melhores práticas. O ASM teria detectado a configuração insegura do WAF e a exposição inadequada dos buckets S3 como um risco de alta prioridade, gerando alertas para a equipe de segurança com recomendações específicas de remediação, permitindo a correção antes que qualquer violação ocorresse.
Kronos (UKG) (2021)
O incidente da Kronos demonstra o desafio de rastrear dependências de software em aplicações complexas.
O Desafio: A vulnerabilidade Log4j (CVE-2021-44228) afetou uma biblioteca de logging Java presente em milhares de aplicações globalmente. Conhecida como "Log4Shell", esta falha crítica de execução remota de código representou um desafio sem precedentes para equipes de segurança que precisavam rapidamente identificar onde a biblioteca estava sendo utilizada.
O Prejuízo: Um ataque de ransomware que explorou a vulnerabilidade Log4j paralisou completamente os serviços de folha de pagamento em nuvem da Kronos por semanas, afetando milhares de clientes globais, incluindo empresas massivas como Tesla e Pepsico. Funcionários não conseguiam registrar horas, empresas não conseguiam processar folhas de pagamento. A empresa-mãe UKG relatou perdas diretas de mais de $30 milhões, sem contar os danos aos clientes.
Como o ASM Ajudaria? O caso Log4j foi um momento definidor para o ASM. No "Dia Zero" da divulgação da vulnerabilidade, quando organizações em todo o mundo entraram em pânico tentando descobrir onde estavam usando Log4j, as plataformas de ASM foram as ferramentas mais eficazes disponíveis. Elas escanearam rapidamente toda a superfície de ataque externa em busca de sinais da biblioteca vulnerável (através de técnicas como análise de respostas HTTP, fingerprinting de aplicações e detecção de comportamento), permitindo que as equipes identificassem e priorizassem a correção de sistemas críticos em horas, não semanas.
Incidentes no Brasil
Banco Inter (2018)
O caso do Banco Inter evidencia os desafios de segurança em APIs, especialmente em ambientes de rápida inovação digital.
O Desafio: Uma API (Interface de Programação de Aplicações) apresentava uma vulnerabilidade de autorização. Um pesquisador de segurança identificou que era possível acessar dados de outros correntistas alterando parâmetros na chamada de API. Esta falha, conhecida como Insecure Direct Object Reference (IDOR) ou Broken Object Level Authorization (BOLA), está entre as vulnerabilidades mais comuns em APIs modernas, listada no OWASP API Security Top 10. A API expunha dados sensíveis, incluindo informações pessoais identificáveis (PII) e detalhes de transações financeiras.
O Prejuízo: O banco sofreu uma multa de R$ 1,5 milhão aplicada pelo MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) e enfrentou um dano reputacional significativo em um momento crítico de crescimento. Para um banco digital que se posicionava como tecnologicamente avançado, o incidente foi particularmente prejudicial à marca.
Como o ASM Ajudaria? O ASM é especificamente projetado para descobrir todos os ativos expostos, incluindo "Shadow APIs" - APIs que a equipe de TI central pode não saber que estão no ar, frequentemente criadas por equipes de desenvolvimento para projetos específicos e depois esquecidas. Uma plataforma de ASM teria: (1) Descoberto o endpoint da API ou por ter identificado documentação (swagger/openapi) relacionada ou através de integração direta com a Cloud (leitura das rotas dos api gateways). (2) Analisado seu comportamento através de testes automatizados e identificado a falta de controles de autorização adequados. (3) Sinalizado esta API como um risco crítico, permitindo que a equipe de segurança corrigisse a falha antes de qualquer exploração maliciosa.
Atento (2020)
O caso da Atento ilustra os riscos de visibilidade inadequada de ativos em infraestruturas complexas.
O Desafio: Um banco de dados Elasticsearch contendo 14TB de dados ficou acessível pela internet sem autenticação adequada. Este banco continha dados sensíveis de clientes da Atento - incluindo grandes bancos brasileiros, empresas de telecomunicações e varejistas - com informações pessoais identificáveis (PII), logs de chamadas de call center e detalhes de serviços prestados.
O Prejuízo: Exposição de dados de milhões de brasileiros e de clientes corporativos da Atento. O incidente ocorreu logo após a entrada em vigor da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), resultando em investigações regulatórias e um prejuízo de imagem incalculável para uma empresa cujo negócio principal é justamente a gestão segura de dados de terceiros. A confiança de clientes corporativos foi severamente abalada.
Como o ASM Ajudaria? Este é um caso de livro-texto de falha no CIS Control 1 (Inventário de Ativos). Uma ferramenta de ASM teria escaneado continuamente os intervalos de IP e ambientes de nuvem da Atento, descobrindo instantaneamente: (1) Um serviço (Elasticsearch) rodando em uma porta pública acessível da internet. (2) A má configuração crítica - a ausência completa de autenticação ou controles de acesso. (3) O alerta gerado teria prioridade máxima, pois bancos de dados expostos são considerados "frutas baixas" (alvos extremamente fáceis) para invasores e são escaneados por bots automatizados 24 horas por dia, 7 dias por semana. A correção poderia ter sido feita em minutos - simplesmente fechando o acesso público ou implementando autenticação.
Prefeitura do Rio de Janeiro - MOVEit (2023)
O incidente do MOVEit na Prefeitura do Rio demonstra o desafio de responder rapidamente a vulnerabilidades de dia zero em software de terceiros.
O Incidente: Em 2023, a Prefeitura do Rio de Janeiro foi afetada por uma campanha de ataque global que explorou uma vulnerabilidade no software MOVEit Transfer. Dados sensíveis de contribuintes, incluindo informações de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e ISS (Imposto Sobre Serviços), foram expostos. O incidente fez parte de uma campanha massiva do grupo de ransomware Cl0p que afetou centenas de organizações globalmente.
O Desafio: A vulnerabilidade CVE-2023-34362 no MOVEit Transfer - um software de transferência de arquivos amplamente utilizado por organizações governamentais e empresas - permitia injeção de SQL. A janela entre a divulgação pública e a exploração ativa foi extremamente curta, criando um desafio significativo para identificação e remediação.
O Prejuízo: Exposição de dados sensíveis de cidadãos cariocas e empresas. A Prefeitura foi notificada pelo Laboratório de Segurança Cibernética (LAB-DEF/MJSP) sobre a exploração, mas o dano já estava feito. Globalmente, esta única CVE custou bilhões de dólares a centenas de empresas (como British Airways, BBC, Shell, Siemens) e expôs dados pessoais de mais de 60 milhões de pessoas em todo o mundo. O grupo Cl0p publicou listas de vítimas e exigiu resgates massivos.
Como o ASM Ajudaria? Este é um exemplo perfeito de como o ASM funciona em situação de crise real. Descoberta: A plataforma de ASM teria identificado que a Prefeitura utilizava um servidor MOVEit Transfer exposto na internet, catalogando-o no inventário de ativos externos. Análise: O ASM mantém um inventário não apenas de ativos, mas também de software e versões. No dia em que a Progress Software (dona do MOVEit) e o CISA (Agência de Cibersegurança dos EUA) anunciaram publicamente o CVE-2023-34362, a plataforma de ASM teria automaticamente cruzado essa informação com o inventário. Priorização: O sistema geraria um alerta de prioridade "Crítica" ou "Urgente", indicando: "Você tem um software (MOVEit Transfer) com uma vulnerabilidade de execução remota de código (RCE) que está sendo ativamente explorada agora por grupos de ransomware conhecidos. Desconecte o servidor da internet ou aplique o patch de emergência imediatamente." Com esse alerta, a Prefeitura teria tido horas, não dias, para agir antes que o ataque ocorresse.
Lojas Renner (2021)
O ataque à Lojas Renner ilustra os desafios de proteger ambientes corporativos complexos contra grupos de ransomware sofisticados que exploram múltiplas vulnerabilidades conhecidas.
O Incidente: Em agosto de 2021, a Lojas Renner, uma das maiores redes varejistas do Brasil, sofreu um ataque de ransomware que afetou suas operações digitais e sistemas internos. O grupo RansomEXX (também conhecido como Defray777) assumiu a autoria, publicando indícios de comprometimento em fóruns da dark web. Embora a empresa tenha informado não haver vazamento de dados pessoais de clientes, o episódio destacou a capacidade de grupos organizados de explorar cadeias de vulnerabilidade e realizar movimentação lateral em grandes corporações brasileiras.
O Desafio: O grupo RansomEXX é conhecido por utilizar múltiplas vulnerabilidades conhecidas em suas campanhas, criando um desafio complexo de defesa. Entre as CVEs historicamente associadas ao grupo e ao loader PipeMagic estão: CVE-2017-0144 (EternalBlue) para propagação interna em redes Windows mal segmentadas; CVE-2024-23897 (Jenkins LFI) para acesso inicial a servidores Jenkins expostos; e CVE-2025-31324 (SAP NetWeaver) para execução remota de código em ambientes SAP corporativos. A diversidade de vetores de ataque torna particularmente desafiador manter visibilidade e prontidão de patch em toda a superfície de ataque.
O Prejuízo: A paralisação temporária de canais digitais e sistemas de back-office causou impactos financeiros e reputacionais significativos, afetando a confiança do mercado e demonstrando o potencial destrutivo de ataques direcionados de ransomware contra o varejo brasileiro.
Como o ASM Ajudaria? Uma plataforma de ASM como a CSURFACE teria fornecido múltiplas camadas de proteção: (1) Descoberta de Serviços Vulneráveis: Identificação de serviços críticos expostos à internet, como SMB, Jenkins e componentes SAP Web, que são alvos conhecidos de grupos de ransomware. (2) Detecção de Versões Desatualizadas: Mapeamento contínuo de versões de software e correlação automática com CVEs conhecidas exploradas por grupos como o RansomEXX. (3) Priorização Baseada em Inteligência de Ameaças: Correlação automática entre exposição de ativos, criticidade do sistema e probabilidade real de exploração baseada em atividade observada de grupos de ameaça (threat likelihood), permitindo que a equipe de segurança priorize remediações nos ativos que grupos de ransomware estão ativamente visando.
Conclusão: ASM Não é Custo, é Economia
A ausência de visibilidade contínua da superfície de ataque pode resultar em consequências financeiras significativas. Os dados do relatório "Cost of a Data Breach 2024" da IBM Security são reveladores.
O custo médio de um vazamento de dados atingiu um recorde histórico de USD 4.88 milhões, representando um salto de 10% em relação ao ano anterior. Este não é um aumento gradual; é uma aceleração preocupante que mostra que os custos de incidentes de segurança estão crescendo mais rápido que os orçamentos de segurança da maioria das organizações.
Mas o relatório da IBM vai além de apenas apresentar o custo médio; ele detalha os fatores que aumentam ou diminuem esses custos. E aqui está a parte crucial: organizações que implementaram tecnologias de Attack Surface Management economizaram em média USD 186.000 por incidente de violação de dados em comparação com organizações que não o fizeram. Esta não é uma economia teórica ou projetada; é uma economia real, medida e documentada em milhares de incidentes analisados.
Mais impressionante ainda, o relatório mostra que organizações que combinaram ASM com IA de segurança e automação economizaram em média USD 2.22 milhões por incidente - quase metade do custo médio total de uma violação. Pense nisso: implementar ASM não é um custo; é um investimento com ROI (Return on Investment) comprovado e mensurável.
Para colocar isso em perspectiva: se sua organização sofrer uma única violação de dados nos próximos 5 anos (e as estatísticas sugerem que a probabilidade é alta), o investimento em uma plataforma de ASM se paga múltiplas vezes apenas pela redução do impacto desse único incidente. E isso sem contar os incidentes que serão completamente evitados porque as vulnerabilidades foram descobertas e corrigidas antes de qualquer exploração.
Referências
- IBM Security - Cost of a Data Breach Report 2024
- Gartner - Top Security and Risk Management Trends 2023
- CIS Controls v8.1 - Center for Internet Security
- OWASP API Security Top 10
- NIST National Vulnerability Database (NVD)
- CISA - Cybersecurity and Infrastructure Security Agency
- FIRST - Common Vulnerability Scoring System (CVSS)
- LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados
- FTC - Equifax Data Breach Settlement
- OCC - Capital One Settlement
- MPDFT - Multa Banco Inter
- LAB-DEF/MJSP - Laboratório de Segurança Cibernética
- Ciso Advisor